Olá César. Obrigado pelo texto gentil com o leitor. Há poucos dias conheci esta rede social e voltei a ter vontade de interagir dessa forma. A possibilidade de ler e poder trocar ideias sobre conteúdos como esse que tu nos oferece é um oásis. E eu não sabia que estava com tanta sede :)
Eu ignoro bastante filosofia da mente, em especial as discussões mais recentes (Kant, que eu conheço um pouco, conta como filosofia da mente, eu imagino). Então para me aproximar do teu texto, começo pela forma. Na primeira parte, tu explicas o sentido da tua afirmação central "Aprendemos a lembrar.".
Um parêntese: ajuda muito o contraste que fazes com a condição de não aprendermos a ter consciência das nossas "cenas mentais". Tu usas o verbo "ver", mas acho que é um uso metafórico ou analógico, não? Eu não vejo cenas mentais como vejo o passarinho na minha frente. Ou vejo? Fecho parêntese.
Após explicar a afirmação central, argumentas haver boas razões para sustentá-la. A forma geral da tua argumentação seria que i) a afirmação central tem implicações - se bem entendi 5 implicações; e ii) estas implicações são verdadeiras, deveríamos estar dispostos a adotá-las. Logo, a força argumentativa em favor da tua afirmação central residiria nesta compatibilidade, consistência, com crenças que deveríamos ter, com juízos que deveríamos tomar por verdadeiros. Entendi corretamente a forma geral?
Oi Marcio! Ótimo te encontrar por aqui. O Substack serve muito bem para quem, como nós, lembra que a internet já foi território de ideias. Gosto de frequentar este espaço.
Sobre "ver": Sim, seria visualizar, na própria mente, uma cena.
Sobre a forma do argumento, seria mais ou menos a seguinte:
A. Há boas razões empíricas para aceitarmos que as crianças aprendem a lembrar. Boa evidência disso é que crianças com cuidadores com estilos conversacionais diferentes adquirem diferentes habilidades relacionadas à conversa sobre a mente, sua ou dos outros.
B. Sendo assim, não devemos supor que haja, na mente, uma caixa da memória; em vez disso, colocamos na mente uma "caixa da memória".
C. Consequência filosófica: teorias filosóficas que tratam das normas do bom lembrar se tornam bastante relevantes, pois a memória não é algo que esteja pronto no cérebro - não é, desde o início, algo que esta ali para ser visto numa chapa de raio-x.
Grato pela resposta, César. Bem lembrado, a internet já foi território de ideias. E pode voltar a ser, pelo visto. Digo o mesmo, muito bom te encontrar por aqui. Eu suspeitava não ter entendido a forma geral do teu argumento, e agora tenho certeza de que não tinha entendido mesmo :) . Mas acho que agora compreendi.
Olá César. Obrigado pelo texto gentil com o leitor. Há poucos dias conheci esta rede social e voltei a ter vontade de interagir dessa forma. A possibilidade de ler e poder trocar ideias sobre conteúdos como esse que tu nos oferece é um oásis. E eu não sabia que estava com tanta sede :)
Eu ignoro bastante filosofia da mente, em especial as discussões mais recentes (Kant, que eu conheço um pouco, conta como filosofia da mente, eu imagino). Então para me aproximar do teu texto, começo pela forma. Na primeira parte, tu explicas o sentido da tua afirmação central "Aprendemos a lembrar.".
Um parêntese: ajuda muito o contraste que fazes com a condição de não aprendermos a ter consciência das nossas "cenas mentais". Tu usas o verbo "ver", mas acho que é um uso metafórico ou analógico, não? Eu não vejo cenas mentais como vejo o passarinho na minha frente. Ou vejo? Fecho parêntese.
Após explicar a afirmação central, argumentas haver boas razões para sustentá-la. A forma geral da tua argumentação seria que i) a afirmação central tem implicações - se bem entendi 5 implicações; e ii) estas implicações são verdadeiras, deveríamos estar dispostos a adotá-las. Logo, a força argumentativa em favor da tua afirmação central residiria nesta compatibilidade, consistência, com crenças que deveríamos ter, com juízos que deveríamos tomar por verdadeiros. Entendi corretamente a forma geral?
Oi Marcio! Ótimo te encontrar por aqui. O Substack serve muito bem para quem, como nós, lembra que a internet já foi território de ideias. Gosto de frequentar este espaço.
Sobre "ver": Sim, seria visualizar, na própria mente, uma cena.
Sobre a forma do argumento, seria mais ou menos a seguinte:
A. Há boas razões empíricas para aceitarmos que as crianças aprendem a lembrar. Boa evidência disso é que crianças com cuidadores com estilos conversacionais diferentes adquirem diferentes habilidades relacionadas à conversa sobre a mente, sua ou dos outros.
B. Sendo assim, não devemos supor que haja, na mente, uma caixa da memória; em vez disso, colocamos na mente uma "caixa da memória".
C. Consequência filosófica: teorias filosóficas que tratam das normas do bom lembrar se tornam bastante relevantes, pois a memória não é algo que esteja pronto no cérebro - não é, desde o início, algo que esta ali para ser visto numa chapa de raio-x.
Abraço!
Grato pela resposta, César. Bem lembrado, a internet já foi território de ideias. E pode voltar a ser, pelo visto. Digo o mesmo, muito bom te encontrar por aqui. Eu suspeitava não ter entendido a forma geral do teu argumento, e agora tenho certeza de que não tinha entendido mesmo :) . Mas acho que agora compreendi.