Quando a teoria emburrece
Como pessoas inteligentes conseguem a proeza de não enxergar o que está bem na frente delas
Mark Manson acaba de lançar um vídeo deliciosamente mordaz. Ele basicamente diz que quanto mais inteligente você se acha, mais espetacular é seu potencial para estar espetacularmente errado.
O vídeo começa com o caso de Malcolm Caldwell, um professor marxista que, em 1978, achava que seria uma ótima ideia visitar o Camboja comandado por Pol Pot, o assassino de 20% da população do país.
Imagina estar tão ofuscado por uma ideologia que você não enxerga um genocida mesmo quando ele está sentado na frente dele. Caldwell conseguiu uma audiência com o próprio Pol Pot. Foi recebido com pompa, teve uma conversa intelectual profunda e, horas depois, foi executado a mando do próprio Pol Pot.
Depois, Manson nos apresenta Robert McNamara, o homem que gerenciou a Guerra do Vietnã como quem administra uma linha de montagem da Ford. McNamara media tudo: armamentos, contagem de tropas, baixas, cadeias de suprimentos. Seus gráficos e planilhas mostravam consistentemente que os EUA estavam vencendo.
Pequeno detalhe: os EUA estavam perdendo. Espetacularmente.
McNamara não conseguia quantificar o que realmente importava: a disposição dos vietnamitas de morrer pelo seu país, o moral péssimo dos soldados americanos, a corrupção desenfreada do governo vietnamita. É como tentar avaliar a qualidade de um restaurante contando o número de garfos e ignorando o gosto da comida.
O terceiro exemplo do vídeo envolve as famosas Zonas Azuis – lugares onde supostamente as pessoas vivem mais tempo. Esse conceito gerou uma indústria de influencers.
Só tem um probleminha: quando você olha para os dados com um pouco mais de ceticismo, descobre que as Zonas Azuis tendem a estar em lugares onde:
Os registros de nascimento foram implementados tardiamente ou destruídos em guerras
Existiam incentivos para mentir sobre a idade (para evitar recrutamento militar ou ganhar benefícios de aposentadoria)
Curiosamente, há muitos centenários, mas poucos nonagenários
Finalmente, conhecemos Paul Ehrlich, um biólogo de Stanford que em 1968 preveu que centenas de milhões de pessoas morreriam de fome nos anos 1970, que toda vida marinha desapareceria até 1980, e que a Inglaterra não existiria mais no ano 2000.
Nada disso aconteceu. Mas o fascinante é que, mesmo após décadas de erros catastróficos, ele continua sendo tratado como um sábio profeta ambiental. Isso porque Ehrlich, assim como muitos “especialistas” de hoje, está no negócio da narrativa catastrófica, onde ser alarmista é mais lucrativo e satisfatório para o ego do que respeitar os fatos.
Manson sugere que nos apegamos a modelos teóricos falhos não apenas por razões intelectuais, mas porque eles nos dão algo muito mais fundamental: identidade e pertencimento.
É como aqueles ativistas climáticos que destroem obras de arte. Manson pergunta: “Você acha que isso é mesmo sobre mudança climática?” E responde: “Não, são seres humanos vazios e irritados, desesperados para que suas vidas signifiquem algo diante do vazio.”
Observe como as pessoas se agarram às suas tribos intelectuais – os defensores de qualquer causa que lhes dê um sentido de superioridade moral. A teoria se torna óculos que não apenas filtram a realidade, mas criam uma identidade completa.
A solução de Manson para esse problema:
Aceite que um modelo teórico não é a realidade.
Trate todos os modelos com ceticismo saudável. “Todos os modelos estão errados, mas alguns são úteis. Se um modelo é útil, use-o, mas quando deixar de ser, abandone-o e siga em frente.”