Na aula de inglês, estávamos conversando sobre emoções. A professora me perguntou:
“César, o que te entedia?”
Eis algo no que eu não pensava faz muito tempo, mas foi fácil responder.
A coisa que mais gosto é filosofia muito bem feita – e nada me entedia mais do que lacração apresentada como se fosse filosofia. Quando a chatice bate no ventilador, dá vontade de abrir o smartphone e rolar a tela até achar algo intelectualmente mais desafiador, como um vídeo de gatos. Dá vontade de dormir. Não posso dar exemplos, pois este tipo de chatice me faz ligar imediatamente minha jukebox mental, presto zero atenção, mas falo, antes de tudo, da sociologia a priori que se tornou comum em sites de associações de profissionais do ramo e em conferências, seminários, revistas e workshops que se apoiam em slogans que foram tudo, menos devidamente pensados.
Lacração é a performance chamativa, mas sem conteúdo.
Um tempo atrás, eu estava no público de uma apresentação de filosofia que estava muito boa. Era um expert falando da sua expertise. No entanto, após as ótimas lições, ante as perguntas sinceras e interessadas do público, o palestrante ignorou tudo o que havia duramente estudado, encadeou um bocado de lugares comuns do Tik Tok, e se achou o máximo. O público, majoritariamente formado de graduandos, fez silenciosamente aquela cara de “Oh, não!”. O palestrante nunca notou o flop do seu lacre, até onde sei.
“Muitas vezes, o que passa por uma ideia é, examinando mais de perto, apenas propaganda – alguém quer algo, quer promover algo.”
— David Salle, pintor, no livro “How to See”
O que pode ser mais entediante do que ser tratado como idiota por uma pessoa que você só se vestiu e saiu de casa para ver por achar que ela te traria algo que você mesmo não teria como descobrir sozinho? O que te interessa o círculo quadrado das trivialidades de especialistas do a priori, os filósofos, quando estes acham que conhecem os fatos da mais empírica das ciências, a política? Quem precisa ir até uma sala iluminada com luz fluorescente de uma universidade pública para ouvir ecos das tolices com ar profundo que proliferam nas profundezas das redes sociais?
Sim, amo a filosofia, mas dou razão a quem critica a lacração. Quem precisa de diplomados para isso?
Não acho que isso vai mudar, no sentido de melhorar. Mas não é difícil de ver que, apesar dos lacradores serem barulhentos e se acharem o máximo, o público só se engana quando quer se enganar.
De qualquer forma, os produtores de bocejos de hoje passarão. Sim, serão substituídos por outros. Mas a filosofia pra valer, apesar de tudo, esta aí para ficar. É desta que eu gosto. E, para as emergências, sempre haverá vídeos de gatos, ou algo assim.
Uma ótima descrição de um tipo de tédio que, ao que me parece, é peculiar ao nosso tempo. No caso do palestrante, isso fica bastante claro. Além do tédio, há o cringe, que é o que sentimos quando percebemos, meio desconcertados, que a tentativa de ser atual se torna farsesca.
Concordo. Para o bom e velho filosofar, só há um sentimento genuíno que o motiva, diferente de outros afetos e caprichos que podem vir a conspurcá-lo: o espanto!